Pesquisa inédita revela que 70% das vítimas não relatam a prática, que envolve retirada não consentida do preservativo; impactos incluem ISTs, gravidez indesejada e traumas psicológicos
O stealthing – retirada intencional do preservativo sem consentimento durante a relação sexual – é uma forma de violência que afeta principalmente mulheres, mas também homens, especialmente na comunidade LGBTQIA+. Uma pesquisa pioneira da Fiocruz, com quase 3 mil vítimas, mostrou que 70% nunca contaram o ocorrido a alguém, muitas por medo de não serem levadas a sério. Em 10% dos casos, o agressor era o próprio marido. Wendell Ferrari, pesquisador responsável pelo estudo, destaca que o problema está na falta de compreensão sobre consentimento: “A vítima consente com o sexo, mas não com a retirada da camisinha. Isso é violência”.
Além do trauma psicológico – que levou muitas vítimas a evitar relacionamentos por anos –, quase 20% contraíram ISTs, incluindo HIV, e nove mulheres engravidaram, sendo que cinco recorreram a abortos ilegais, mesmo que a interrupção por violência sexual seja permitida no Brasil. Apesar de não haver uma lei específica contra o stealthing, o artigo 215 do Código Penal (violação sexual mediante fraude) e a Lei Maria da Penha podem ser aplicados. Um avanço recente foi a decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo, que garantiu o direito ao aborto legal para vítimas de stealthing. Mesmo assim, muitas ainda enfrentam descrédito em delegacias e unidades de saúde, sendo questionadas sobre seu comportamento no momento da agressão. A pesquisa reforça a urgência de políticas públicas e campanhas que esclareçam essa violência e garantam apoio às vítimas.
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