Coluna Educação 5.0 #1: Reflexão sobre o 8 de março

É impossível pensar no Dia Internacional da Mulher, sem abordar aspectos históricos da inserção das mulheres na vida social e produtiva na sociedade, senão correríamos o risco de termos uma visão simplista e romântica da luta das mulheres pelos seus direitos.

As brasileiras só tiveram o às urnas eleitorais em 24 de fevereiro de 1932, resultando assim no crescimento da alfabetização feminina. Tal acontecimento também contribuiu para abertura de caminhos para a construção e efetivação da consciência política entre mulheres.

Quanto ao contexto laboral no Brasil, um comparativo estabelecido pelo IBGE, por exemplo, sobre a participação de homens e mulheres no mercado de trabalho brasileiro, desde a década de 1970 até o ano 2000, apresenta um percentual masculino sempre superior em relação ao feminino, em todas as décadas.

Dados mais recentes publicados em março de 2019 pelo IBGE relativos à participação segundo o sexo nos grupamentos ocupacionais do trabalho principal, revelam que a presença das mulheres é mais marcante em ocupações elementares (55,3%); no ramo de serviços, observam-se vendedoras em comércios e mercados (59,0%), entre profissionais das ciências e intelectuais (63,0%) e como trabalhadoras de apoio istrativo (64,5%).

Os dados revelam ainda que os homens são predominantes em setores como forças armadas, policiais e bombeiros militares (86,8%); operadores de instalações e máquinas e montadores (86,2%); trabalhadores qualificados, operários e artesões (83,8%) e os trabalhadores qualificados da agropecuária, florestais, da caça e da pesca (78,9%) (IBGE, 2019).

Na PNAD Contínua 2018 (IBGE, 2019) é apontada que a diferença do rendimento do trabalho de mulheres e homens nos grupos ocupacionais, tendo em conta a população ocupada na faixa etária 25 a 49 anos no Brasil, decorrem de diversos elementos estruturais do mercado de trabalho, a exemplo da faixa etária, cor ou raça, horas trabalhadas, nível educacional e tipo de ocupação exercida pela pessoa.

O extrato populacional evidencia a posição da mulher no mercado de trabalho, os rendimentos e as horas trabalhadas, em que o rendimento médio real por gênero teve uma melhora expressiva em cinco anos, mas as assimetrias ainda são significativas e os homens ainda aparecem em uma posição mais favorável, inclusive acima do crescimento total, considerando-se os dados de 2012 a 2017.

Apesar de tamanha assimetria, tem sido cada vez maior a presença das mulheres no mundo do trabalho remunerado. Elas têm conquistado emancipação profissional e ocupado cargos antes eminentemente masculinos.
Nesse contexto, é de extrema importância refletir, nesse 8 de março – Dia Internacional da mulher, sobre as relações de trabalho que envolvem a mulher como sendo relevantes e, certamente, também o são para a sociedade atual, objetivando compreender como a condição de mulher influencia e é influenciada na construção da identidade feminina na sociedade atual.

A relação de gênero e trabalho no Brasil significam novas conquistas ou persistência da discriminação, em que a diversificação das funções de mulheres nos setores predominantes de sua inserção laboral – saúde, educação e serviços – reproduz a polarização entre mulheres altamente qualificadas e valorizadas profissional e economicamente e as de menor nível, qualificação com baixos salários e desvalorização social, constatada não apenas em países desenvolvidos na Europa, mas também no Brasil.

É válido considerar que há uma construção hegemônica da masculinidade nas relações sociais, que funciona não só como referência, mas também enquanto critério comparativo na construção do gênero feminino.

Mudanças nas dimensões econômicas, sociais, culturais, políticas e tecnológicas repercutem no delineamento de identidades em que a feminilidade surge como uma construção simbólica. A mulher vem conquistando, ao longo do tempo, seu espaço no mercado de trabalho, mesmo que isto ocorra de forma distinta em relação aos homens, com claras diferenças relativamente a salários, por exemplo, muitas vezes menor para as mulheres que desempenham atividades iguais às desenvolvidas por homens, o que é possível perceber desde os tempos remotos da Revolução Industrial.

Mesmo que ainda se constate a existência de mulheres fora do mercado de trabalho que dedicam-se ao cuidado dos filhos e do lar é possível verificar o crescimento do número de profissionais do sexo feminino que estão disputando, em condições de igualdade e, muitas vezes, de superioridade, um determinado espaço no campo social, econômico e político.

A ocupação de cargos nos diversos setores produtivos por mulheres, considerado como produtivo, político e social, contribui para o desenvolvimento do país, demonstrando que as mulheres estão buscando condições de igualdade com os homens, deixando de submeterem-se a eles a partir da conquista de alguns direitos sociais.

Porém, vale ressaltar um paralelo entre competências e o mundo masculino ao afirmar que o debate relativo às questões da qualificação e da competência pode ser analisado pelo “ponto de vista que permite pensar essa noção a partir de uma perspectiva feminina”. Isto porque, normalmente, ao se cogitar as relações de competência, rapidamente aparecem contextos “e características masculinas: criatividade, responsabilidade, iniciativa, capacidades técnicas e autonomia no trabalho. As mulheres raramente estão presentes em cargos que requerem tais características”. E, quando isto ocorre, a remuneração é menor para as mulheres, sendo esse um fenômeno concebido em escala mundial.

Por outro lado, a crescente participação feminina no mercado de trabalho, referindo-se à representatividade da remuneração da mulher para o contexto familiar, apesar das mulheres buscarem o exercício de atividades preferencialmente consideradas femininas, por tradição, indício de manutenção de um padrão de segregação ocupacional.

O cenário atual em que há dinâmicas mais favoráveis às mulheres em relação a realidade social do ado, após estarem as mulheres, ao longo de muitos anos, submissas a valores e regras diferenciados no mercado de trabalho.
Essa mudança significativa relativamente à cultura patriarcal e machista vivenciada no Brasil se dá em função do próprio mercado, que reconhece a importância da mulher “em cargos estratégicos e acredita que suas características são relevantes na hora de empreender, enxergando nelas um novo estilo de liderar, em que a forte pressão das mulheres em busca da ocupação de seus espaços no mercado de trabalho contribuiu para a mudança daquela realidade.

As diferenças de gênero no Brasil, a partir da base de dados do IBGE (2019) e publicadas na Revista Exame (ano), relativamente à taxa de frequência escolar no ensino médio, à proporção de adultos com educação superior completa (incluindo as respectivas raças), ao tempo dedicado aos afazeres domésticos, às diferenças salariais, à representação política na Câmara dos Deputados e a cargos de gerência nas empresas, demonstram, ainda, as claras diferenças quando se trata de mercado de trabalho, evidencia os desafios atuais no contexto brasileiro.

Ainda há muito a caminhar na busca de uma sociedade em que os Direitos das mulheres sejam reconhecidos, respeitados e valorizados. Penso que os os iniciais já foram dados, e cabe a todas e todos optarmos por deixar esse legado para as futuras gerações, sob pena de não termos futuro, mas este é possível, principalmente se trilharmos o caminho com os ditos por Cora Coralina “Eu sou aquela mulher a quem o tempo muito ensinou. Ensinou a amar a vida e não desistir da derrota, renunciar a palavras e pensamentos negativos. Acreditar nos valores humanos e ser otimista”.

Maria Betânia Fidalgo Arroyo

Graduação: Licenciatura em Pedagogia.
Especialização: Psicologia da Educação
Mestrado: Ensino Superior e Gestão
Doutorado: em istração.

Membro da Academia Paraense de Letras.
Reitora na Universidade da Amazônia.
Diretora Regional no Grupo Ser Educacional.
Presidente do Conselho Estadual de Educação CEE/PA.
Presidente do Conselho Curador da Fidesa.
Vice Presidente do Fórum de Instituições de Educação Superior FIESPA/PA