Brasil e Angola buscam diversificar parceria comercial além do petróleo e agronegócio

Após queda de 80% no fluxo comercial desde 2015, países assinam acordos em defesa, agricultura e energia para reaquecer relação bilateral

O Brasil e Angola estão redefinindo sua relação econômica, tradicionalmente centrada no petróleo (94% das exportações angolanas) e carnes brasileiras (30% das vendas para o país africano). Após o comércio bilateral despencar de US$ 4 bilhões em 2008 para US$ 670 milhões em 2015 – afetado pela Lava Jato, crise do petróleo e avanço chinês na África -, os governos de Lula e João Lourenço firmaram novos acordos em defesa (com modernização da frota de Super Tucanos), agricultura (tecnologia para o semiárido do Cunene) e energia (parceria Petrobras-Sonangol). “Queremos apoiar Angola na diversificação econômica”, afirmou Lula durante visita presidencial em 2023, quando reabriu o consulado-geral em Luanda, o único do Brasil na África.

Especialistas apontam desafios estruturais: enquanto Angola busca reduzir sua dependência do petróleo (que responde por 90% das exportações), o Brasil tenta recuperar espaço perdido para a China, que hoje domina projetos de infraestrutura no país. “As construtoras chinesas, com financiamento estatal, construíram todos os estádios da Copa Africana em Angola”, observa Gilberto Guizelin, historiador da UFPR. Apesar dos avanços diplomáticos – como os 50 anos de reconhecimento da independência angolana celebrados em maio -, o comércio ainda é modesto: Angola representa apenas 0,2% das exportações brasileiras. Para Elga Lessa (UFBA), a retomada depende de superar barreiras logísticas e financeiras: “A limitação da capacidade de pagamento angolana ainda é um obstáculo”.

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil